segunda-feira, 23 de maio de 2016

Bela, recatada e do lar – Você acha que é bonito ser feio?



Bela, recatada e do lar – Você acha que é bonito ser feio?

Uma nota no jornal e milhões de comentários inflamados. Qual o problema mesmo?

Quem diria que chegariam tempos em que precisaríamos defender a beleza, a decência e a família. Pois bem, eis que esses tempos chegaram!

Tempos de completa desestruturação de todo tipo de valor. As ‘belas-artes’ são um amontoado de formas grosseiras, desconexas e agressivas. Os valores são relativos. A família é (ou simplesmente não é) à gosto de cada um. Certamente os atributos dignos de exaltação pelos que professam ódio mortal pelos adjetivos ‘bela’, ‘recatada’ e ‘do lar’ sejam ‘feia’, ‘depravada’ e ‘anti-família’. 

Sobre a pessoa que ensejou tamanho burburinho, nem saberia dizer se é realmente ‘bela, recatada e do lar’ (e isso é completamente irrelevante). O importante é entender o porquê de tamanha reação e, no final das contas, chegar à conclusão sobre que mal há e que virtude existe em cada uma dessas qualidades.

Que mal há em ser bela? Que mal há em ser recatada? Que mal há em ser do lar?

Procurei, mas não consegui encontrar nada negativo para escrever sobre essas três qualidades. Por outro lado, poderia facilmente escrever muitos e muitos parágrafos sobre os males infindáveis de ser ‘desagradável’, ‘despudorada’ e ‘anti-família’, mas creio que um pouco de bom senso do leitor é suficiente para preencher rapidamente essas lacunas.

Pobre geração de mulheres. Conseguiram convencê-las de que é bonito ser feio. De que é cool ser depravada. E de que essa história de família não passa de conversa fiada pra oprimir.

E esse é bem o discurso do movimento ‘pró-mulher’ mais anti-mulher da humanidade. Que ao fazer do ‘machismo’ o demônio de todas as mulheres, conseguiu convencê-las que não havia valor na delicadeza com a qual Deus a havia criado. O movimento que conseguiu convencer as mulheres de que liberdade e felicidade só seriam conseguidas através da completa libertinagem. O movimento que conseguiu convencer as mulheres de que a família era uma invenção que visava seu mal e de que a sua condição biológica (maternidade) era um grande empecilho para a sua plena realização e competição no mundo.

Jogaram a mulher contra ela mesma. Elas viraram suas maiores inimigas quando decidiram se expor, se entregar e se deixar usar indiscriminadamente. Viraram suas maiores inimigas quando negaram a si mesmas o acolhimento e a companhia de uma relação familiar saudável. Viraram suas maiores inimigas quando negaram a si mesmas o prazer e o vínculo da maternidade. Terminarão suas vidas usadas, mal-amadas e sozinhas.

E o que é ser bela?

Bela é o adjetivo da pessoa agradável, que desperta admiração ou prazer. 

Ser bela é presentear o mundo com nossa existência e não tem nada a ver com ser oprimida pela ditadura da beleza (1,70 de altura, 60 kg, loira, olhos claros). Beleza vai além da aparência exterior. Essa é uma sabedoria já registrada nos ditados populares. A beleza tem a ver com um conjunto em que as qualidades de espírito influenciam diretamente sobre as qualidades físicas. Beleza vem de dentro e é a capacidade de ser agradável e de dar prazer aos que estão ao nosso redor através daquilo que somos – nossa personalidade.

As mulheres desistiram de ser belas e se contentaram em ser podres e desagradáveis versões femininas de sepulcros caiados cobertos por uma espessa camada de base translúcida da MAC e 300 baforadas de 212 Sexy. Desculpe-me, mas isso não é beleza.

O mundo precisa de mais mulheres belas de verdade. Pessoas (homens e mulheres) agradáveis, que despertam a admiração, que dão prazer em conviver. Ninguém em sã consciência se oporia a isso.

O que é ser recatada?

Recatada é o adjetivo da pessoa discreta, decente, modesta, reservada. É a qualidade de quem tem pureza, honestidade, pudor. Ser recatada é cuidar de si mesmo. É guardar-se, preservar-se. É valorizar sua dignidade, dignidade concedida por Deus ao criá-la à Sua imagem e semelhança. 

Ao permitir ser usada e abusada indiscriminadamente em nome de uma liberdade fajuta, a mulher concedeu voluntariamente o direito de ser machucada, tratada indignamente, desvalorizada. Se a mulher soubesse o bem que faz a ela mesma ao se resguardar, jamais desprezaria o cuidado consigo mesma e a preservação da sua pureza. 

O que é ser do lar?

Do lar é o adjetivo daquela cuja atividade é cuidar do bem-estar da família. É amar e dedicar-se prioritariamente ao que é mais propriamente seu – sangue do seu sangue, carne da sua carne. É valorizar o núcleo mais básico da sociedade e entender a função social de quem tem o cuidado de uma família nas suas mãos. É entender que o sucesso em qualquer outra atividade não compensa o fracasso dentro de casa. Que os sentimentos genuínos de alegria, amor e satisfação não podem ser substituídos por status, dinheiro, poder. E que colocar o lar como prioridade não significa ser intelectualmente limitada, emocionalmente dependente ou produtivamente desambicionada.

As futuras gerações são entregues à própria sorte à medida em que as mulheres negam sua importância no lar. Gerações terceirizadas, concebidas em laboratório, educadas por empresas, programadas por estranhos. Uma tragédia anunciada para a sociedade.

E o que a Bíblia diz?

Por ‘ironia do destino’, os adjetivos ‘bela’, ‘recatada’ e ‘do lar’ são exatamente os adjetivos recorrentes nas Escrituras quando se trata de feminilidade. Para longe de valores machistas, estes são valores Bíblicos.
"A beleza de vocês não deve estar nos enfeites exteriores, como cabelos trançados e joias de ouro ou roupas finas. Pelo contrário, esteja no ser interior, que não perece, beleza demonstrada num espírito dócil e tranquilo, o que é de grande valor para Deus." - 1 Pedro 3:3,4
"Como anel de ouro em focinho de porco, assim é a mulher bonita, mas indiscreta." - Provérbios 11:22
"As mulheres mais jovens a amarem seus maridos e seus filhos, a serem prudentes e puras, a estarem ocupadas em casa, e a serem bondosas e sujeitas a seus próprios maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja difamada." - Tito 2:4,5

E caso você faça parte do grupo que pensa que a Bíblia é um livro machista que visa e perpetua o mal contra as mulheres, convido-a a arrazoar com franqueza quais valores realmente beneficiam a mulher. 

Beleza, recato e domesticidade não são valores opressores, limitadores e discriminatórios. Pelo contrário, são valores que visam o bem maior da mulher, que reconhecem seu valor e seu papel fundamental no seio sociedade.

Por mais mulheres belas, recatadas e do lar! 

As mulheres precisam disso e a sociedade agradece.

Deus me ajude a cada dia a ser um pouquinho mais de cada.
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Autor: Renata Veras
Fonte: Mulheres em Apuros


Origem deste artigohttp://bereianos.blogspot.com.br/2016/04/bela-recatada-e-do-lar-voce-acha-que-e.html

As implicações da mentira




Quem é que nunca ouviu falar da história de Pinóquio, o garoto-boneco narigudo de madeira? Dentre as crianças – ou ao menos quando eu era criança – a história de Pinóquio é o exemplo de menino mentiroso. Quanto mais mentia, seu nariz vegetal crescia. Talvez não seja incomum vermos professoras de ensino fundamental dizendo aos pequenos que tomem cuidado para que seus narizes não cresçam, em analogia à mentira.

A verdade, queiramos ou não, é que somos todos pinóquios – em maior ou menor grau. Vez ou outra caímos na mentira. Uns mais, outros menos; intencionalmente ou não. Isso, porém, não deve ser motivo para não buscarmos agir com honestidade e espírito verdadeiro.

O que alguns talvez não saibam é que a inversão quanto à mentira é mais antiga do que a era cristã. Moisés, há mais de três mil anos, recebeu o decálogo (ou Dez Mandamentos) dado pelo próprio Deus. Dentre as ordens, o nono mandamento é “não dirás falso testemunho”. Muitos pensam que isto implica em apenas não mentir, mas não é apenas isso.

Catecismo de Heidelberg, em sua pergunta de número 112, diz: “O que se exige no nono mandamento?”. A resposta dada pelo próprio catecismo é:

Que eu não devo levantar falso testemunho contra ninguém, nem distorcer as palavras de ninguém, não fazer fofoca nem difamar, não condenar nem me ajuntar com ninguém para condenar a outrem precipitadamente e sem o ter ouvido. Antes devo repudiar toda mentira e engano, obras próprias do diabo, para não trazer sobre mim a pesada ira de Deus. No tribunal ou em qualquer outro lugar eu devo amar a verdade, dizê-la e confessá-la com honestidade e fazer tudo o que puder para defender e promover a honra e a reputação do meu próximo.[1]

Como dito no Catecismo citado acima, cumprir o mandamento não é apenas evitar a mentira, mas muito além disso. Kevin DeYoung nos diz:

Alguma vez você já disse uma meia verdade sobre alguém? Alguma vez você deu falso testemunho do caráter ou das ideias de alguém? Se assim for, você quebrou o nono mandamento. [2]

Dizer meias verdades também é mentir. Ser desonesto ou algo do gênero nos faz iguais a mentirosos. Corremos o risco de emitir uma versão diante de algo, omitindo algumas partes ou distorcendo outras. Não dar a descrição honesta de algo é caracterizado por mentira. O Salmo 40.4 nos diz: “Bem-aventurado o homem que põe no Senhor a sua confiança e não pende para os arrogantes, nem para os afeiçoados à mentira”.

O catecismo nos diz, ainda, que não devemos fazer fofoca. Fofocar é dizer algo sem fundamentação ou, ainda, divulgar segredos de alguém[3]. Desastres podem ser provocados por fofocas ou especulações sem embasamento. Casamentos podem ser prejudicados. Pessoas, mortas. Vidas, arruinadas. Carreiras, destroçadas. Tudo isso por uma simples especulação. Provérbios 26.28 nos diz: “A língua falsa aborrece a quem feriu, e a boca lisonjeira é causa de ruína.”.

É necessário entender que uma fofoca não é apenas algo errado, mas também dizer algo desnecessário. Paulo nos diz: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” (Ef 4.29).

Outro problema é o julgar. Como seria bom se todos buscassem informações confiáveis sobre algo ou alguém antes de julgar. Aliás, ainda mais importante: buscar saber se isso ou aquilo de fato aconteceu. Muitos julgam os demais sem qualquer precaução. Sem buscar informações. Jesus Cristo nos diz: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.” (Mt 7.1-2, NVI). A falta de amor leva algumas pessoas a não se colocarem no lugar do próximo.

É importante lembrar, antes de qualquer coisa, que o que nos é proibido não é o julgar, mas julgar indevidamente. Nós precisamos analisar tudo e reter o que é bom, como dissera Paulo. Muitas pessoas, carismáticos principalmente, se escondem atrás do “não julgueis” como desculpa para cometer pecados e saírem ilesos de situações. Lembro-me de certa ocasião em que, ao criticar um pastor neopentecostal, uma amiga me disse: não se deve falar mal de um pastor, ele é ungido de Deus. A questão da expressão “ungido de Deus” é assunto para outro momento, mas o foco é: precisamos avaliar tudo.

Precisamos, ainda, fugir de “toda mentira e engano”. Uma razão prática para isso é que o pai da mentira é Satanás (Jo 8.44). DeYoung nos diz:

As palavras “todo tipo” realmente me apertam. Quantas vezes distorcemos as nossas histórias só um pouquinho, exagerando a quantidade de neve que caiu, ou quanto tempo estudamos, ou quão rápido corremos? Eu me peguei querendo distorcer a hora em que me levanto pela manhã, só para dar impressão de um melhor rendimento do meu dia.[4]

É necessário policiar-se, para que nossa natureza pecaminosa não nos faça pecar. Podemos, algumas vezes, mentir para nós mesmos e acreditar em nossa própria mentira. Quando mentimos, honramos o pai errado.[5]

Outra forma de desobedecer o mandamento é ser conivente com injustiças. O catecismo diz que precisamos “fazer tudo o que puder para defender e promover a honra e a reputação do meu próximo”. Arruinar o nome de uma pessoa publicamente ou contribuir injustamente com seu declínio é ser conivente. O amor ao próximo, dentre outras situações, deve-se também aplicar aqui.[6]

Catecismo Maior de Westminster, em sua pergunta 145, nos diz quais são os pecados proibidos no nono mandamento. Um comentarista nos resume, dizendo que são: difamação, julgamento falso, pleitear em favor de causas más, covardia, caluniar e maldizer, discriminar.[7]

Resumindo: O ocultamento ou falseamento da verdade, o falso testemunho, o perjúrio e a detração são ofensas a Deus pela quebra do nono mandamento, opróbrios aos eleitos e ignomínia diante do santíssimo tribunal divino.[8]

Que possamos viver de acordo com a vontade do Senhor para as nossas vidas, sendo verdadeiros e honestos.

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Notas:
[1] CATECISMO DE HEIDELBERG. Dia do Senhor 43. Disponível em: <http://www.heidelberg-catechism.com/pt/lords-days/43.html>. Acesso em 02 abr. 2015.
[2] DeYOUNG, Kevin L. As boas novas que quase esquecemos. São Paulo: Cultura Cristã, 2013. p. 192.
[3] Dicionário Online de Português. Significado de Fofoca. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/fofoca_2/>. Acesso em 02 abr. 2015.
[4] DeYOUNG, Kevin L. As boas novas que quase esquecemos. São Paulo: Cultura Cristã, 2013. p. 193.
[5] Ibid. p. 194.
[6] Ibid.
[7] FIGUEIREDO, Onézio. Catecismo Maior de Westminster. Disponível em: <http://www.ipalimeira.com.br/files/Catecismo-Maior-de-Westminster.pdf>. Acesso em 04 abr. 2015. p. 228-229.
[8] Ibid. p. 229.

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Sobre o autor: Christofer F. O. Cruz é seminarista no Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, em São Paulo, pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Trabalha com adolescentes na 1ª Igreja Presbiteriana de São Bernardo do Campo/SP.

Fonte: http://fidem-rationem.blogspot.com.br/2015/04/as-implicacoes-da-mentira.html

A família perfeita



Todo mundo gostaria de ter uma família perfeita, não é mesmo? Muitas vezes nós podemos pensar que nossa família parece meio louca, com manias que detestamos. É possível que olhemos para outras pessoas e pensar: “nossa... eles sim, veja como se portam! Queria que lá em casa fosse assim!”. A verdade é que é comum colocarmos em prática aquele velho ditado: “a grama do vizinho é mais verde!”.

Toda família tem seus problemas. Há sempre aquele irmão que adora fazer bagunça – principalmente os caçulas, creio eu. Brincadeiras à parte, cada núcleo familiar tem suas particularidades. Às vezes um costume que você detesta, outras pessoas têm cuidado excessivo. Quando se é uma família cristã, essas diferenças e peculiaridades não deixam de existir. Todavia, quando você é o único cristão em casa, isso pode se intensificar. Pense no seguinte: qual é maior a probabilidade de haver problemas: quando há princípios bíblicos ou quando a lei cultural vigente reina sem limites? É claro que isso não é regra. Uma família não cristã pode muito bem ser mais harmônica do que muitas famílias cristãs mundo a fora. Exemplo disso são pessoas que são extremamente dóceis na igreja mas, em casa, corra quem puder.

Há quem diga: como eu queria ter uma família como as reveladas na Bíblia! Me desculpe, mas discordo. Já ouvi um amigo comentar o que vou dizer agora – o que me dá o sentimento de não estar sozinho nessa ótica. Você gostaria de ser da família de Davi? Eu não. Um filho que se deita com uma meia-irmã e outro irmão o mata (2Sm 13.11-14; 13.23-36). Que tal da família de Jacó? Ora, o próprio Jacó passou a perna no irmão (Gn 25.29-34). E não para por aí: lembra do que aconteceu com José, filho de Jacó? Seus irmãos o jogaram em uma cisterna e, depois, o venderam como escravo (Gn 37.23-28). Que tal da família de Jesus? Os próprios irmãos de Cristo não criam nele (Jo 7.5). Tudo isso demonstrei querendo dizer que nenhuma família é perfeita, todas têm seus problemas.

Sobre a convivência familiar, Jim Britts cita algumas passagens bíblicas: Filipenses 2.3-4, Mateus 7.3-5, Romanos 12.18, Efésios 6.1-3.

Como em todo relacionamento, há parâmetros nos quais os cristãos devem procurar viver. Vejamos o que nos diz Filipenses 2.3-4:

Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.

Pois bem, aqui vemos o que o apóstolo nos diz quanto à nossa conduta. Será que na convivência do dia a dia nós nos portamos com humildade, espírito de auxílio, ou temos segundas intenções? Toda criança alguma vez na vida certamente já fez algo com vista a conseguir alguma coisa dos pais. Entre irmãos, então, isso acontece várias vezes – na semana, quando não no mesmo dia. O versículo 4 implica que precisamos ter em mente o princípio de propriedade. Da mesma forma que queremos conservar o que é nosso, precisamos respeitar o que é dos outros, e zelar por isso.


Mateus 7.3-5 fala sobre julgar. Precisamos ser cautelosos com isso. Quando falo sobre julgamento ou disciplina na igreja, sempre apelo aos irmãos que sejam amorosos. É claro que não devemos deixar de julgar por conta disso, mas fazê-lo com temor e cuidado. O que diferencia você de um cristão em pecado é o cuidado de Deus. Quem garante que amanhã você não fará o mesmo? Um adúltero pode ter dito que nunca faria isso, mas fez. Por isso, precisamos vigiar e estar em comunhão com Deus.

Romanos 12.18 nos diz para ter paz com todos. Isso implica em perdão. Ah, como isso é difícil. Sempre há um infeliz que tem prazer em pisar em nosso calo. Não é fácil. Todavia, lembre-se do sacrifício de Cristo. Mesmo quando ele estava sendo crucificado, ele pedia a Deus que perdoasse quem fez aquilo a ele. Tenha isso em mente. Esforce-se. Rogue ao Senhor forças para perdoar.

Efésios 6.1-3 nos fala sobre a conduta dos filhos para com os pais. Deus nos diz para que honremos nossos pais. Ele não diz: honre seu pai se ele for bonzinho e amoroso. Mas sim: honre seus pais. Isso é duro e difícil para nós, pecadores. Mas é o que devemos fazer. Peça ajuda do Senhor, e ele te ajudará.

Alguns núcleos familiares, porém, passam por problemas incomuns. Isso porque não acontecem com todos nós, mas em casos específicos. Problemas como esses são o divórcio, abuso. São dois temas que Jim Britts aborda falando sobre família. Divórcio e abuso são coisas condenadas por Deus. O casamento não foi criado para ser desfeito. Se alguém se casa pensando em se divorciar, já começou errado. O abuso, por sua vez, é algo inconcebível, mas acontece. Nesse caso, é preciso se atentar para o comportamento de pessoas que desconfiem passar por isso e, se detectar de algo, denuncie às autoridades e à Igreja, para que ambas tratem do caso. Uma pessoa que sofreu abuso deve procurar pessoas que a ajudem. Ficar em silêncio nunca vai ajudar. Quanto ao divórcio, se uma pessoa está sofrendo por causa da separação dos pais, ela deve procurar auxílio em Deus, nos amigos e em seu pastor. Se fechar em seus próprios sentimentos apenas vai alargar uma ferida dolorida, causando mais traumas.

Se sua família parece ter algo de errado, comece a observar as demais. Se for algo sério, procure auxílio. Peça ajuda a seus amigos mais próximos, aquela pessoa que você confia e sabe que com ela você pode contar. Não saia contando para meio mundo, sejam pessoas pagãs ou cristãs. Afinal, onde há ser humano, há erro e pecado. Portanto, seja cauteloso e procure ajuda o mais breve possível, além de, claro, contar com o auxílio de Deus e derramar suas angústias em oração e na busca do Senhor.

Que ele nos abençoe e nos capacite mais e mais, dia após dia, e que sejamos irmãos, pais, tios, primos e amigos melhores, com o auxílio do bondoso e misericordioso Deus.

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Autor: Christofer F. O. Cruz
Fonte: Fidem et Rationem

Evangelismo com Mentira: a nova loucura do Lucinho




E lá vamos nós outra vez. Um texto escrito por mim, criticando o Lucinho Barreto... Já fiz isso antes, mas torno a fazer por motivos óbvios: alertar jovens para que não caiam nas loucuras que esse sujeito propõe. A mais nova está bem aqui. Assista ao vídeo e depois volte a ler este pequeno artigo.

Presumindo que você tenha assistido a “loucura de maio”, vamos ao cerne da questão: Esse dito cujo propõe que uma dupla de jovens use o artifício da mentira para obter “conversões” dentro do transporte coletivo. Isso mesmo. Dois jovens entram, enquanto um distribui panfletos evangélicos, outro finge que se opõe ao evangelismo, ambos entram numa discussão teológica/apologética e por fim, o que já é crente, fingindo não ser, dirá que se convenceu e “aceitará” a Jesus após um apelo. EVANGELISMO MENTIROSO É DOSE!

Algumas pessoas - advogando em prol do Lucinho - argumentam que isso é um teatro. Mas daí me vem algumas questões: i) o Lucinho em nenhum momento diz que aquilo é uma peça teatral e nem orienta que os jovens digam isso ao público ouvinte. ii) as pessoas quando assistem a uma peça teatral estão ali conscientes de que estão vendo atores em cena. O método que o Lucinho propõe faz com que as pessoas acreditem que os dois jovens não se conhecem e discutem de verdade. A finalidade também é que o povo acredite que a conversão ocorreu. Logo, definitivamente não é teatro. Está mais para “pegadinha do Malandro”, só falta o “glu, glu, ié-ié”.

A tal “loucura de maio” consiste na quebra do 9º mandamento. O Catecismo Maior de Westminster esclarece. Na pergunta 145 lemos: “Quais são os pecados proibidos no nono mandamento?”. Eis uma parte da resposta: “falar inverdades, mentir”. Mentira é algo repugnante para Deus (Pv 12.22), por isso que os mentirosos são expulsos da Sua presença (Sl 101.7 e Ap 22.15). Quem mente é filho do Diabo, pois é ele o pai da mentira (Jo 8.44). O apóstolo Paulo ensina aos colossenses que a partir do momento em que nos despimos do velho homem e passamos a ser nova criação, moldados a imagem do próprio Deus, devemos abandonar a mentira (Cl 3.9-10). Repito: o cristão deve abandonar a mentira (Ef 4.25). Logo, o que faz uma pessoa em sã consciência faltar com a verdade e simular uma conversão? Há alguém que pode elucidar a questão.

Mark Dever, pastor e diretor do Ministério 9Marcas, escreveu sobre o que caracteriza uma igreja saudável, que por tabela vai diagnosticar também igrejas doentes. Uma das marcas para que a igreja goze de boa saúde é a compreensão exata do que vem a ser evangelização. E por exata, ele quer dizer bíblica. Observem um trecho de sua fala no livro O que é uma Igreja Saudável? : “(...) se em nossas igrejas deixamos de lado o que a Bíblia diz a respeito da obra de Deus na conversão, a evangelização se torna uma obra nossa em que fazemos o que for possível para obter uma confissão verbal”.

Dever continua:
“De acordo com as Escrituras, os cristãos são chamados a cuidar, exortar e persuadir os não-cristãos (2Co 5.11). Mas devemos fazer isso por meio da plena ‘manifestação da verdade’, que significa rejeitar ‘as coisas que, por vergonhosas se ocultam’ (2Co 4.2)”.

Quando a igreja entende que deve fazer o trabalho do Senhor do jeito do Senhor, e atentar para a Sua divina soberania em converter os pecadores de maneira sobrenatural através da simples exposição do evangelho, então ela irá parar de confiar em metodologias baratas e não ficará nessa fissura por apresentar números elevados. Isso que o Lucinho propôs retrata a enfermidade da igreja brasileira, que não tem uma compreensão bíblica da evangelização por falta de ensinamento. E como vem o ensinamento? No caso da igreja não há nada melhor que a pregação expositiva das Escrituras. Ela é alimento robusto, pois traz em seu bojo a centralidade do evangelho e busca esclarecer o conteúdo bíblico para os fiéis trazendo aplicações que servem para o dia-a-dia.


Não é coincidência que esse método espúrio de evangelizar venha de um “pastor” que se fantasiou de Superman e de Chapolim. Pastor de uma igreja que em seu púlpito já rolou de tudo: de stund-up até dicas de maquiagem. Igreja que ao invés de se ater ao Ensino da Palavra, enfatiza a adoração por meio de música e realiza “atos proféticos” sem nenhuma fundamentação bíblica. Está tudo entrelaçado meus irmãos. Se falta boa doutrina, a evangelização é comprometida, pois, quem evangeliza desconhece o conteúdo do evangelho. Por isso vemos tantas abordagens evangelísticas que falam sobre obter paz, amor e felicidade em Jesus, mas que não falam o mais importante: Jesus veio para livrar do jugo do pecado e da condenação ao inferno todo aquele que nEle crê. O perdão dos pecados é o centro da boa-nova. O resto até pode vir agregado, mas não é promessa para este mundo.

Finalizo ciente de que vão me acusar de ter inveja do Lucinho e criticá-lo por má fé, na tentativa de me promover em suas costas. Nem precisa ser profeta para saber que em alguns comentários alguém falará (fora de contexto): “não julgueis”. Mas eu teimo em escrever, e teimo na esperança de que jovens que estavam prestes a cometer tal loucura, parem para refletir, dando atenção aos versículos aqui mencionados, e não utilizem este método infame para evangelizar. Se querem compartilhar do evangelho para obter conversões genuínas, gastem tempo estudando a fundo a Bíblia, gastem tempo expondo o que aprenderam através de uma sequência de estudos com algum não-crente e gastem tempo orando para que o Senhor converta o coração daquele que você tem investido em discipular. E no tempo certo, tempo de Deus, os frutos que demonstram conversão irão aparecer.

Oro para que Deus desperte a nossa juventude para o ensino da Palavra.

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Autor: Pr. Thiago Oliveira
Fonte: Electus

Revelação e Futuro



Excerto da palestra X, "Revelação e Futuro", do livro A Filosofia da Revelação, de Herman Bavinck, a ser publicado em breve pela Editora Monergismo. Tradução de Fabrício Tavares de Moraes, co-editor do blog Bereianos.

A doutrina de que o homem está corrompido pelo pecado, não podendo, portanto, santificar e salvar a si mesmo por meio de sua própria força é comumente considerada o erro mais terrível de todos; a autonomia e a autosoteria rejeitam toda forma de heterosoteria. Mas, ao mesmo tempo, quando toda transcendência e metafísica são negadas, o ser humano é exaltado acima de seu estado habitual, passando a ser identificado com o divino. A tarefa super-humana de transformar a presente sociedade num estado de paz e alegria requer mais do que simplesmente o poder humano; se Deus não opera a mudança, a esperança pode ser cultivada somente quando o poder do homem é divinizado. De fato, essa é a ideia central daquela teoria filosófica que Strauss desenvolveu mais claramente, a saber, que o infinito não é realizado num único homem, mas somente na humanidade; esta, sendo a verdadeira unidade das naturezas divina e humana, o homem transformando-se em Deus, o Espírito infinito descendo à finitude, a criança da visível mãe-natureza e do invisível pai-espírito, o realizador de milagres, o salvador do mundo. Aquilo que a humanidade confessa com relação a Cristo e declara em sua ideia de divindade é simplesmente um símbolo daquilo que ela encontra em si mesma, daquilo que ela é. Teologia é essencialmente antropologia; o culto a Deus é a humanidade adorando a si mesma. Comte, dessa forma, foi bem consistente quando substituiu a adoração a Deus pela adoração ao homem.

Essa deificação do homem prova claramente que nenhuma escatologia é possível sem metafísica. Mas isso é demonstrado ainda mais claramente por outro fato. A cultura, a ética, o idealismo – todos indo atrás de um objetivo – devem sempre buscar uma aliança com a metafísica. Kant reverteu as relações entre esses elementos, e tentou tornar a moral totalmente independente da ciência; mas sobre essa moralidade, o filósofo construiu novamente uma fé prática numa providência divina. De semelhante modo, qualquer sistema ético que aspira ser a verdadeira ética e apresentar um caráter normativo e teleológico, sem se tornar uma simples descrição de hábitos e costumes, se vê forçado a buscar o apoio da metafísica. Se o homem deve se empenhar por um ideal, ele pode ganhar coragem apenas pela fé que tal ideal é o ideal do mundo inteiro e está baseado efetivamente na realidade. Ao banir a metafísica, o materialismo não possui mais um sistema ético, passa a desconhecer a distinção entre bem e mal, não possui mais lei moral, nem dever, nem virtude, nem sumo bem. E quando a filosofia humanista imanentista de Natorp, Cohen e outros procura basear a ética exclusivamente no imperativo categórico, ela perde toda segurança de que o “deveria” irá algum dia triunfar sobre o “é”, e o bem sobre o mal. Independentemente daquilo que se crê ser o bem maior, este é ou uma imaginação, ou é e deve também ser o supremo e verdadeiro ser, a essência da realidade, o sentido e destino do mundo, e, assim, também o vínculo que mantém unidos todos os homens e nações em cada parte do mundo, salvando-os da anarquia.

O cristão, por sua vez, encontra a segurança do triunfo do bem em sua confissão da vontade soberana e todo-poderosa, que, embora distinta e exaltada acima do mundo, cumpre, todavia, por meio dele, Seus santos desígnios, e, de acordo com estes desígnios, conduz a humanidade e o mundo à salvação. Mas aquele que rejeita essa confissão não escapa, contudo, da metafísica. Soa bem chamar o homem de “o rebelde na natureza”, o qual, quando esta diz: “Morra!”, responde: “Eu continuarei vivendo”. Porém, com toda sua sabedoria e força, o homem, ao final das contas, é impotente contra a natureza. Eis o motivo porque, mesmo quando o teísmo é negado, a verdadeira realidade – a vontade do mundo que se encontra oculta por detrás dos fenômenos, manifestando-se muito imperfeitamente – é pensada como análoga àquela do homem, e especialmente como uma vontade eticamente boa. Não obstante toda sua autoconfiança e autoglorificação, o homem está, em toda cosmovisão possível, incorporado num todo maior, sendo, portanto, explicado e confirmado por essa totalidade. A metafísica, que é a crença no absoluto como um poder sagrado, sempre constitui o fundamento da ética.

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Autor: Herman Bavinck
Fonte: A filosofia da revelação 

Tradução: Fabrício Tavares de Moraes
Divulgação: Bereianos

domingo, 22 de maio de 2016

A melhor forma de governo



No último capítulo indicamos as principais funções do estado segundo a concepção calvinista. Neste capítulo demonstraremos que tipo de estado o calvinista poderia considerar ideal – o que é ordenado por Deus – para consumar as suas funções. Se o mundo não tivesse caído em pecado não haveria a possibilidade da incerteza quanto à forma ideal de estado. Este seria um estado mundial, um império mundial: o Reino de Deus. A forma de governo seria monárquica, com Adão à cabeça do império. Na nova terra haverá outras vezes um império mundial sob o segundo Adão – como rei. Mas nesta terra de pecado não poderá se estabelecer o estado mundial disposto por Deus. Para minimizar de algum modo a corrupção do homem, na torre de Babel, Deus dividiu os povos da terra em diferentes nações e línguas. Todavia, vários foram os intentos para conseguir um império mundial. O Anticristo com o recurso da força tratará de estabelecer um império; mas, este império será destruído por Cristo. Pode se dizer que Calvino favoreceria a formação de estados não tão extensos e poderosos, para que assim pudesse eliminar o perigo inerente em toda concentração excessiva de poder governamental. 

O calvinismo, consequentemente, não favorece a formação de um estado único, ou de um império mundial, nesta terra de pecado; e muito menos se manifesta a favor de um determinado tipo de governo. Alguns chegam a supor que o calvinismo pretende instaurar novamente a teocracia mosaica. Então, com vasta frequência nos descrevem Calvino como tratando de fazer tal coisa em Genebra. Todavia, a realidade é bem outra: Calvino em repetidas ocasiões afirmou que a teocracia mosaica estava destinada, exclusivamente, para o povo israelita. Muitas de suas leis foram promulgadas à luz de algumas circunstâncias distintas às de nosso tempo. Por seus desígnios providenciais, Deus achou por bem, após a queda, que o império mundial se fragmentasse em muitos estados, assim, também permitiu que fosse fracionada a autoridade governamental. Deus pode exercer o seu senhorio não somente através de um homem (monarquia), como também, através de uns poucos (aristocracia), e inclusive através de muitos, ou de todos (democracia). Deus não somente pode fazê-lo, como que na realidade o faz. A Bíblia afirma que “não há autoridade que não proceda de Deus”, pois os poderes humanos foram ordenados por Deus.[1] Se Deus exerce o seu senhorio através de diferentes tipos de governo, a pergunta que concerne à forma de governo se reveste de um distinto caráter prático, e poderia se formular assim: que forma será mais funcional quanto aos fins de governo? A resposta não será a mesma em todos os casos. Em alguns países certa forma de governo será melhor, enquanto que em outros a mesma resultaria ineficaz. Nos Estados Unidos da América a forma de governo mais apropriada é a democrática. Mas em outras terras, onde o nível cultural e moral não é tão alto, a forma democrática continuamente se veria perturbada por revoluções. Num país como a China é questionável se uma democracia genuína poderia ser realmente eficaz. Igualmente, no curso da história de uma nação poderá ocorrer num período durante o qual o governo democrático resultará eficaz; mas, em outros, ao declinar a moral e desaparecer o espírito cívico dos cidadãos, uma forma ditatorial ou monárquica virá a ser a mais indicada para estabelecer a ordem e evitar o caos.

Teoricamente podemos encontrar argumentos tanto a favor, como contra as formas de governo mais conhecidas. Na monarquia o poder está nas mãos de uma pessoa; isto favorece a unidade e a eficácia da administração. Mas existe o perigo de que a pessoa investida com tão alta autoridade possa fazer um mau uso em benefício próprio, ou de seus favoritos. Na democracia o poder está nas mãos do povo; isto é uma grande salvaguarda contra a opressão, ao mesmo tempo que politicamente favorece a todos e cria um sentido de responsabilidade. Os inconvenientes são de que a ação é lenta, e de que o partidarismo político chegue a converter-se no fator dominante. Na aristocracia as mentes mais esclarecidas são as que, em teoria, hão de governar; mas, também aqui existe o perigo de que os interesses de uns poucos cheguem a predominar e deste modo gerem distinções e conflito de classes.

A melhor garantia de que um governo resultará eficaz, mais que em sua forma (monárquica, aristocrática ou democrática) dependerá do calibre moral e espiritual do povo. Com boa gente qualquer forma de governo irá bem; mas, com pessoas absolutamente depravadas nenhuma forma terá benefício. Talvez seja a forma monárquica a que terá maior êxito onde se requer um governo autoritário; enquanto que a democracia resultará mais idônea onde o nível moral e cultural for mais alto. Uma coisa é certa: a base moral e espiritual de um povo é fator condicionante do êxito de uma forma de governo. E sobre isto o calvinista, com o seu princípio fundamental da soberania de Deus e a responsabilidade humana, insiste uma e outra vez.

Vale a pena fazer notar aqui que nas Institutas, Calvino favorece tanto um tipo de governo aristocrático como uma fusão de aristocracia e democracia para os países europeus. Baseando-se, para isto, no fato de que os reis raramente governam conforme a justiça e a retidão. Além do mais, Calvino argumentava, os reis não estão sempre dotados daquela sabedoria e discernimento que lhes permita descobrir o que é melhor para o povo. Em suas últimas obras, os comentários, publicados entre 1550 a 1560 – e em especial em Deuteronômio e Samuel – Calvino faz afirmações mui vigorosas em favor de um tipo de governo democrático.

O ESTADO NUM MUNDO SEM PECADO E HOJE

Esta é uma pergunta sumamente importante e sobre a qual se suscita diferenças bem delimitadas. A pergunta não pode ser respondida com um simples não ou sim. Tudo depende do que se entende pelo termo cristão. No sentido estrito pode-se dizer que o estado não é uma instituição cristã. O estado é uma instituição da graça comum de Deus, por meio da qual Deus freia a influência do pecado e promove uma ordem moral geral. Esta instituição existe não somente onde há uma comunidade cristã, como também existe, e se faz presente, em tempos e lugares além do cristianismo; entre muçulmanos, budistas, zoroastristas, bem como na antiga Grécia e Roma. Mas ainda assim, a Bíblia nos diz que todos estes governos foram instituídos por Deus. Consequentemente o estado não é uma instituição claramente cristã.

Existe outro sentido no qual o termo cristão foi aplicado ao estado. Quando um estado se encontra impregnado por um espírito cristão e na administração dos assuntos civis, posto em prática princípios cristãos, então, refere-se a ele como sendo um estado cristão. Se isto é o que se entende por um estado cristão, então, todos os estados, segundo a consciência do calvinismo, deveriam ser cristãos. Por ser Deus o grande soberano do universo, resulta evidente que a sua Palavra há de ser a norma e lei sobre todos os confins da terra. O estado de modo algum deveria ser ateu, ou negar a soberania e lei de Deus, tal como pretende fazer na União Soviética. Muito menos ser neutro, como advogam os filiados do liberalismo político.[2] Por ser Deus o supremo legislador e senhor da criação ninguém pode sustentar que a religião seja assunto meramente privado e que deve divorciar-se de qualquer esfera da sociedade – seja a política, ou outra qualquer -. Deus governa sobre tudo! O estado deve se submeter a suas ordenanças, do mesmo modo que a Igreja e o indivíduo. O calvinismo cujo princípio fundamental é de que Deus é soberano em todas as esferas da vida, enfaticamente insiste que Deus também deve ser reconhecido na esfera política.

Resulta certo, por outra parte, que Deus deu o estado da jurisdição própria. O estado não realizar a obra da Igreja. Pois não é o instrumento ordenado por deus para a propagação da religião. Todavia, em assuntos que estão dentro de sua própria esfera, o estado está ligado à Palavra de Deus – tal como possa estar a Igreja e o indivíduo. Um estado é cristão quando toma a Palavra de Deus como guia, e o governo que emana mantém o respeito com a autoridade, castiga o mal segundo as ordenanças divinas, se esforça em não encobrir a culpabilidade ou responsabilidade de governantes e governados, mantém a santidade do matrimônio e o caráter sagrado da família humana, guarda o Dia do Senhor, promove a filantropia, honra a Igreja e sua missão no mundo e, de outras muitas maneiras dá amostra de estar impregnado do espírito cristão.[4]

Mas, sob uma terceira acepção o termo cristão pode se referir ao estado: quando Cristo é reconhecido como senhor do estado, tal como o é da Igreja; e isto de tal maneira que todos os membros do governo se consideram como instrumentos de sua vontade. Vários grupos na Igreja cristã mantêm esta posição: os arminianos, os erastianos, os católicos romanos, etc. Todos estes sustentam que Cristo é cabeça do estado como o é também da Igreja. Na aplicação deste princípio chegam, todavia, a diferentes conclusões. Recorrendo a certas passagens da Escritura pretendem provar que Cristo também foi feito cabeça do estado. Citemos isoladamente somente alguns versículos da Escritura que fazem referência à autoridade universal de Cristo. No quarto Evangelho, João disse: “o Pai ama o Filho e todas as coisas foram colocadas em sua mão” (Jo 3:35). Em Jo 17:2 ensina que ao Filho foi dado o poder sobre toda a carne. É conveniente notar e um modo especial que, segundo Mt 28:16-20, Cristo antes de ascender aos céus, declarou: “toda autoridade me foi dada nos céus e na terra, portanto, ide e fazei discípulos de todas as nações ... ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”. Pois, se a Cristo lhe foi dado autoridade tanto no céu como na terra, não deveria o estado, do mesmo modo que a Igreja, reconhecer a Cristo como o seu rei, bem como promover – como parte de sua missão – a causa da verdadeira Igreja de Cristo?

Nos tempos do Sínodo de Dort, em 1618, os arminianos defenderam este ponto de vista. Geralmente se crê que a diferença entre arminianos e calvinistas se se concentra na eleição e no livre arbítrio; mas, outra questão que também se discutiu ardorosamente neste concílio foi se o estado tinha ou não autoridade sobre a Igreja; e em caso afirmativo, estabelecer até que ponto o governo civil poderia exercer a sua autoridade. Os arminianos dirigidos por homens tão ilustres como Oldenbarneveld e Hugo Grotius, mantiveram que, ainda que a Igreja tenha o direito de formular a sua própria posição doutrinária, é prerrogativa do estado exercer governo sobre a Igreja.[5] Para sustentar este ponto de vista apelaram a passagens bíblicas tais como os que citamos acima. “Cristo é a cabeça tanto do estado, como da Igreja”; portanto, segundo a posição arminiana, o estado deve exercer a autoridade em sua esfera e também na Igreja; somente em matérias doutrinárias os ministros da Igreja têm autoridade para decidir. Dentro da igreja cristã existe outros que vão mais longe do que os arminianos; e segundo eles o governo teria autoridade para decidir não somente nos assuntos externos da Igreja, como também nos doutrinários. Deste modo ressuscitava aquela velha concepção romana, segundo a qual o poder civil não somente representava a autoridade máxima em todas as esferas estatais, como também exerceria o pontificado supremo na religião do estado (Pontifex Maximus).

Quando no século IV, o governo da antiga Roma aceitou nominalmente o cristianismo, Constantino continuou este costume romano e assumiu a liderança da Igreja, apenas tendo que fazer uma mudança insignificante: de Pontifex Maximus passou a serEpiscopus Universalis (Bispo Universal). Os governantes cristãos que lhe sucederam trataram de manter idêntica posição na Igreja e apelaram aos mesmos textos da Escritura. Pois Cristo tem autoridade sobre toda a carne, eles como representantes desta autoridade sobre a terra, seriam a cabeça visível das duas esferas, entre as quais a sociedade daquele tempo se dividia: o estado e a Igreja. Em nosso tempo os governantes de alguns estados totalitários assumem para o direito de ser considerados como cabeça da Igreja, ainda que para isto não busquem fundamento na Escritura.

A Igreja Católica Romana partiu de uma premissa idêntica: a autoridade de Cristo sobre a terra; mas, chegou a uma conclusão totalmente contrária à que defenderam os imperadores cristãos. O governador do estado não era, simultaneamente, cabeça da Igreja e do estado, senão que tal autoridade recaía no governador da Igreja, ou seja, no Papa. Cristo tem autoridade no céu e na terra; o Papa, por ser o vicário de Cristo na terra, é supremo legislador tanto sobre a Igreja como sobre o estado. Como prova desta suposta autoridade, os papas, ainda em nossos dias, ostentam a tiara, que é uma coroa tríplice que indica o senhorio sobre os três reinos: a Igreja, o estado e o purgatório. Na Idade Média, quando se debilitou o poder do estado e cresceu o da Igreja, esta teoria triunfou, especialmente sob Gregório VII (1075 A.D.).

Onde se encontra o erro de todas estas teorias? Há de se buscar o erro numa exegese deficiente de certas passagens bíblicas relevantes. Certamente a Bíblia afirma que Cristo, o Mediador, tem autoridade sobre toda a carne, e que todo poder nos céus e na terra lhe foi entregue. Todavia, daqui não se deduz que Cristo tenha sobre o estado a mesma autoridade que tem sobre a Igreja. A Cristo lhe foi dado o governo da Igreja e do Reino de Deus. Este governo lhe foi outorgado como recompensa a sua obra mediadora. Deste modo, tal governo entra plenamente na esfera da graça especial. Em toda a amplitude de sua obra redentora ele é supremo e exerce o seu governo através de sua Palavra e de seu Espírito. Cristo disse: “o meu reino não é deste mundo” (Jo 18:36).

Todavia, o estado é uma criação da graça comum de Deus, e não entra sob o governo que Cristo exerce como Mediador e Redentor. A chave para entender esta autoridade que ele exerce sobre toda a carne encontramos em Ef 1:22, onde nos declara que Deus colocou todas as coisas sob os pés de Cristo “e lhe deu como cabeça sobre todas as coisas para a Igreja”. Estas palavras “para a Igreja” delimitam claramente esta autoridade de Cristo sobre toda a carne. Como Senhor da Igreja e do Reino de Deus, Cristo deve protegê-los e dirigir o seu destino através de mundo hostil. Para consumar esta missão Cristo carece de autoridade suficiente para controlar todas as coisas, e seja qual for o rumo que empreendam as forças hostis, Cristo as controlará e fará com que todas as coisas redundem em benefício de sua Igreja e de seu Reino. Inclusive Satanás está sob a jurisdição de Cristo, de maneira que nem as portas do inferno podem prevalecer contra a Igreja. Então, resulta evidente esta autoridade é muito diferente daquela segundo a qual Cristo exerce idêntico governo sobre a Igreja como sobre o estado. O estado, que é uma criação da graça comum de Deus e não da graça especial, certamente sujeitará ao governo do Deus Trino como criador, e neste aspecto está sujeito à Palavra de Deus como norma de vida. Mas não está sujeito a Cristo como mediador da Redenção. Neste último sentido, consequentemente, o estado não pode se considerar propriamente como cristão.[5]

Ao terminar o nosso estudo do ponto de vista calvinista sobre o estado, será bom que façamos um sumário dos fatos estudados. O estado foi originalmente instituído por Deus para a execução daqueles interesses culturais que o povo, em esforço conjunto, haveria de realizar em distinção das tarefas próprias do indivíduo, a família ou outras esferas que poderiam surgir destes interesses privados. O Reino de Deus não encontra a sua continuação no estado de nosso tempo, e sim no reino sobrenatural inaugurado por Cristo; este reino da graça especial terá cumprimento nesta terra após o Dia do juízo. O estado atual é uma solução mecânica, um instrumento da graça comum de Deus; todavia, não realizará os seus fins em oposição ao Reino de Deus, mas, que através da Igreja favorecerá o seu desenvolvimento. A humanidade mesmo após a queda, tem uma série de obrigações culturais para desenvolver. Algumas destas tarefas são de interesse especial para o indivíduo, a família, a Igreja ou para a ciência; assim, não incumbe ao estado o desenvolvimento e cumprimento destas obrigações. Mas há outras tarefas que serão realizadas pelos homens como grupo; e, é aqui onde entra a missão do governo, missão que algumas vezes é mencionada como sendo bonum commune naturale (o bem natural comum). Além do mais, desta missão, o estado, desde a entrada do pecado no mundo, tem a missão de administrar justiça entre os membros da sociedade humana, individualmente e em sua totalidade como grupo. Para realizar esta tarefa, o estado se guiará pela Palavra de Deus, e estar sujeito à soberania do Deus Trino, mesmo que não esteja sob o mediador Cristo, sendo que o domínio do estado não está sob a graça especial, e sim debaixo da graça comum.

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Notas:
[1] H. Henry Meeter, Doutor em Teologia, foi presidente durante 30 anos do Departamento Bíblico do Calvin College, Grand Rapids, MI. Nota do tradutor.
[2] Romanos 13:1.
[3] No contexto dos EUA o termo político liberal se refere a esquerda. Nota do tradutor.
[4] Diepenhorst, P.A., Ons Isolement, p. 33 (Kampen, J.H. Kok, 1935).
[5] Kuyper, A., Gemene Gratie III, pp. 272-273 (Amsterdam, Hoveker & Wormser, 1904).
[6] Bavink, H., Gereformeerde Dogmatik, III, p. 574 (Kampen, J.H. Kok, 1906). Kuyper, A., Gemene Gratie, III, pp. 270, 277, 284-290 (Amsterdam, Hoveker & Wormser, 1904). Também veja o capítulo XVI sobre A relação do Estado com a Igreja.
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Autor: H. Henry Meeter
Fonte: Extraído de H. Henry Meeter, La Iglesia y el Estado (Grand Rapids, TELL, 1963), pp. 111-121. Este livro originalmente foi publicado sob o título de THE BASIC IDEAS OF CALVINISM.
Tradução: Rev. Ewerton B. Tokashiki, em 20 de abril de 2016.

Considerações sobre a legalização do casamento gay



Algumas pessoas, ainda umas que se denominam cristãs, não veem qualquer problema na legalização do casamento gay. Ora, qual o problema de duas pessoas que se amam serem reconhecidas pelo Estado, ou mesmo por alguma Igreja, sua união? Por que gozariam os heterossexuais de um direito ao casamento, enquanto esse direito seria negado aos homossexuais? Ainda, se estamos em um Estado laico, não deveriam os cristãos, mesmo sendo contra o casamento gay religioso, ser a favor das pessoas se casarem no civil? Alguns pensam: “sou contra a homossexualidade, mas a favor das pessoas se casarem”, ou “sou contra o casamento gay apenas religiosamente falando, mas não generalizo meus princípios religiosos privados para a vida secular”. Será mesmo coerente esse tipo de posicionamento? Como os cristãos devem enxergar o casamento gay?

As bases biológicas do casamento

Para começar, definamos “casamento”. Mesmo sem recorrer a argumentos essencialmente religiosos, a definição de casamento permanece sendo a união de duas pessoas de sexos diferentes. Isso porque a definição de casamento se sustenta sobre três pilares básicos: (i) sexo; (ii) quantidade e (iii) espécie. Existem dois sexos biológicos básicos na espécie humana: masculino e feminino (isso não significa que não possa haver exceções aos sexos biológicos básicos). Com base nesse aspecto biológico se estabelece o casamento como sendo entre duas pessoas (quantidade), sendo elas (um homem e uma mulher). Em seguida o casamento é delineado como sendo constituído por pessoas da espécie humana. Estes três pilares (i) sexo: homem e mulher; (ii) quantidade: duas pessoas; (iii) espécie: humana, são a essência que define o que é casamento. Sabe-se, no entanto, que o biológico não é a única coisa a se levar em conta na questão da conjugabilidade, e que nesse sentido o casamento precisa ser constituído de laços afetivos. No entanto, será um erro ignorar o biológico e assumir somente a afetividade na conceituação de casamento. A definição de casamento se sustenta sobre os três pilares biológicos e sobre a afetividade, e não apenas sobre um ou outro. Uma sociedade hedonista, em que se valoriza o amor eros e ignora a biologia humana, acaba por fazer com que o termo “casamento” perca seu rigor conceitual, o que por sua vez gera uma palavra vazia de significados, plástica e flexível, reflexo da fluidez de nossa sociedade. Casamento é, na própria definição do termo, heterossexual, pois carrega consigo a alteridade biológica. “Casamento gay” é um contradicto in adjecto, uma contradição nos próprios termos.

O campo da afetividade e a conjugabilidade

Baseado na teoria dos campos de poder de Weber, alguns teóricos tem desenvolvido a ideia da emergência de um novo campo de poder, o campo da afetividade.[1] Até o fim da Idade Média, campos de poder, como a política, a ética, a economia e a religião, estavam todos em torno da Igreja. Com o secularismo, teria havido uma delimitação mais distinguível dos campos de poder. O campo de poder da religião separou-se do campo de poder do Estado, a Ciência moderna, filha do escolasticismo, foi se tornando um campo cada vez mais independente, separando-se de pressupostos religiosos e subjetivistas. Desse modo, houve um processo que poder-se-ia chamar de uma complexificação dos campos de poder. 

Um campo de poder que também surgiu na Idade Moderna teria sido o campo da afetividade. Tal campo emergiria, englobando ciências afetivas, como a Psicologia, o estudo da socioafetividade, a Teoria das Relações Humanas na Administração, o conceito de Inteligência Emocional dentre outros, além de lançar o solo para o Feminismo, os movimentos de diversidade, o Pentecostalismo e as religiões carismáticas. O surgimento deste novo campo foi de grande importância para o mundo, especialmente por uma maior consideração da dimensão afetiva do ser humano, seus aspectos psicológicos, suas emoções e sua subjetividade.

O campo afetivo trouxe também consequências no que diz respeito ao casamento. O casamento, a partir do século XVIII, passou a estar cada vez mais vinculado a noção de amor. O casamento passou cada vez a estar mais ligado às ideias de erotismo eamor-paixão, do que às ideias de contrato familiar e propriedade. Surge então na Modernidade a ideia do amor-paixão como fundamento do casamento. E de fato, não negamos a importância da esfera psicológica e afetiva do casamento.       

No entanto, existe algo que podemos chamar de violência simbólica de um campo de poder. Alguns campos de poder podem lançar seus tentáculos e querer usurpar outro campo. O Mercado pode, por exemplo, interferir na Medicina, como quando a Psiquiatria passa a ter de atender interesses da indústria farmacêutica. O Estado pode querer interferir nas relações familiares, proibindo os pais de darem “palmadas” nos filhos. Um campo de poder pode também, querer reduzir toda a realidade em torno de si, como o fizeram o psicologismo, o positivismo e o biologismo. Assim, alguns podem interpretar que todos os fenômenos são psicológicos, ou passarem a enxergar o ser humano como um animal biológico tal como qualquer outro “produto do processo evolucionário”. 

Ultimamente, é isso que temos visto fazer o campo afetivo. Ele se ergue sobre outros campos, querendo lançar fora as bases biológicas para a definição do casamento e prepotentemente querendo definir casamento sobre a base do sentimento. O resumo da conjugabilidade pelo afetivismo se vê naqueles que pensam “Qual o problema de duas pessoas que se amam, se casarem?” ou “Deixem as pessoas serem felizes”– como se o sentimento afetivo de amor resumisse a questão. Isso tem reverberações até no crescimento do divórcio – o separar-se porque o “amor acabou”. Assim, o casamento, tanto conceitualmente, como pragmaticamente, passa a estar resumido e sustentado tão somente pela afetividade. O fato de dois homens ou duas mulheres se amarem eroticamente, não os torna um casal, pois o casamento não se reduz a esfera afetiva.

A esfera transcendental do casamento

Para os cristãos a questão é ainda mais profunda, o casamento não tem só uma esfera biológica e afetiva, mas também uma dimensão ética-transcendental. Ele foi criado com um propósito e um sentido. A união de dois sexos diferentes é o símbolo da distinção na unidade, reflexo do arquétipo uno/múltiplo da natureza divina, comunicada na Imago Dei. A unidade essencial e a pluralidade pessoal do divino são refletidas na união conjugal dos gêneros. A alteridade dos sexos é um elemento necessário para o casamento enquanto reflexo do transcendente. É por isso que, em sua dimensão transcendental, o casamento só pode ser casamento se for heterossexual, e a união sexual entre duas pessoas do mesmo sexual é uma perversão narcísica que ignora a alteridade. 

Há ainda uma esfera mítica no casamento. Ele revela um mistério, a união mística entre Cristo e a Igreja. O casamento tem uma esfera espiritual. Ele existe como encenação da união amorosa entre o Deus Filho e Seu povo eleito. O homem é o representante da autoridade de Cristo na família, e a mulher manifesta a glória da Igreja no matrimônio. Os cristãos devem ter em mente toda essa esfera ética – transcendental – espiritual, antes de darem as mãos ao reducionismo afetivo do casamento gay. 

O casamento gay e o posicionamento cristão

Lúcio Oliveira pontua que “Platão, em a ‘República’ observa que tal como é a sanção pública em torno da moralidade, dos valores, do que ela acha legal e ilegal, será a formação da mentalidade ética da geração posterior.[2] Trocando em miúdos, quando as crianças em formação olharem para o mundo e virem que tudo isso é considerado normal, uma questão de ‘direito’ e até mesmo algo comemorado pelo povo - inclusive por seus pais cristãos - é bem possível que tenha sua percepção de mundo influenciada. E, não, ela não assimilará os valores de tolerância e afins. Os valores antropológicos dos pais cristãos e sua concepção a respeito do ser humano serão solapados pelo fenômeno que se desdobra na sociedade. Um bom adolescente perceberá que esses valores da ‘velha religião’ são obsoletos para o seu tempo. E estes cristãos estarão em maus lençóis quando tiverem que evangelizar seus filhos. Se é que têm esse interesse. Se é que são cristãos”. 

Assim a legalização do casamento gay não significa uma mera concessão de direitos, mas uma nova, e quase uma revolução[3], no modo de pensar da sociedade, uma sociedade que vai tomar uma prática imoral como moralmente aceitável, consentir com isso é consentir que a sociedade adote um modo de pensar que é contrário aos princípios da moral, em especial levando em consideração que os cristãos consideram a moral como absoluta, universal e objetiva, e não relativa. Ser conivente com a legalização do casamento gay seria contribuir também para que o modo de pensar da próxima geração seja modificado, de modo a prejudicar e dificultar os cristãos a continuarem a manter seu posicionamento diante da nova mentalidade social.

Além disso, cremos que a Lei de um Governo acaba por refletir a moral do seu povo, de fato, as nossas leis são alicerçadas nos princípios da moral judaico-cristã, e seria uma pena que perdêssemos esses princípios, pois eles certamente são o que sustentam os princípios de justiça social, respeito, amor e tolerância. Um dos papéis da Igreja, apontados por Cristo, é que ela deve ser “sal da Terra”, o que faz o sal senão servir de elemento que permite a preservação e a conservação? Assim defendemos que o papel dos cristãos em meio a uma sociedade que esteja gradualmente perdendo os padrões de moral, é de trabalhar para que essa moral seja conservada. Isso é justamente uma manifestação do amor cristão, que jamais consentiria com que as decisões de hoje fizessem produzir uma mentalidade social desvinculada dos princípios morais. 

O casamento não é simplesmente um “direito civil inerente ao ser humano”, de fato, diferente do acesso à saúde, educação e moradia, o casamento não é um direito inalienável, e é verdade que, uma pessoa pode ser plenamente realizada sem se casar. A questão é que o Estado ao aprovar o casamento gay está concedendo benefícios a esse tipo de união, como direito a herança, repartição de bens, etc. Ao fazer isso o Estado está incentivando um tipo de prática, e não penso que os cristãos devam apoiar que o Estado incentive uma prática imoral. Cremos sim que os homossexuais têm o direito de fazer sexo com pessoas do mesmo sexo, mas uma coisa é o Estado permitir isso, outra é ele incentivar, quando dá benefícios a esse tipo de união. Ao conceder benefícios à união homossexual, legalizando o casamento, o Estado já está adotando um posicionamento moral, a saber, que o casamento homoafetivo é benéfico para a sociedade. Mas, os cristãos não concordam com esse posicionamento moral, já que cremos que a prática da homossexualidade é moralmente nociva, logo não faria sentido para o Cristianismo ser favorável a legalização do casamento gay. 

A posição do Estado em favor do casamento gay não é uma posição “neutra”, ao contrário, é uma posição em benefício de uma união imoral e que prejudica o Cristianismo. Aliás, a legalização do casamento gay favorece uma concepção relativista ou utilitarista de moral em detrimento a uma concepção ética metafísica ou objetiva. No entanto, a negação da objetividade e universalidade da ética e da moral é umacontradictio in adjecto, o relativismo moral se for levado a sério conduz a resultados desastrosos. A concepção utilitarista de moral, no entanto, continua não sendo um padrão satisfatório, na medida em que os efeitos de um posicionamento não determinam sua moralidade. 

Resposta à objeção do casamento como sendo privado

Alguns dizem que o casamento é uma questão de fórum privado, que duas pessoas se casarem não interfere na vida de um religioso contrário ao casamento gay. Mas será essa objeção coerente? O difícil estará em definir o que seria pertencente à vida privada, visto que de toda forma, nossa subjetividade não pode ser separada do social, e até mesmo aquilo que fazemos no âmbito privado, na medida em que se relaciona com a nossa subjetividade, e visto que esta última está intimamente relacionada com a vivência em sociedade, torna a linha entre social e privado extremamente difícil de definir. Neste caso, por exemplo, em relação aos homossexuais, sou contra a criminalização das relações homossexuais, não havendo problema civil que duas pessoas do mesmo sexo, tenham, no âmbito privado, relações entre si, por outro lado sou contra a legalização do casamento gay, na medida em que isso carrega várias questões ideológicas, que como se percebe, tem um impacto social muito significativo. Somente um cego não percebe as profundas modificações sociais e os impactos públicos, que têm a legalização do casamento gay. 

Considerações finais

Precisamos levar vários pontos em questão, para que a Igreja ao invés de ser “sal da Terra”, não se converta em uma contribuidora para a degradação moral que se desdobra em nossa sociedade. A legalização do casamento gay é uma violação simbólica entre campos de poder, em que a afetividade quer reduzir sobre si as prerrogativas de dominar sobre a ética, a religião, o transcendental e o biológico. Não existe casamento gay, justamente porque o termo casamento por si só já designa uma união heterossexual. Nós, cristãos, não compactuamos com a ideia de casamento gay, nem reconhecemos a existência real de tão união conjugal. Antes, obedecemos às Escrituras, quando dizem:
 “Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos; nem conversação torpe, nem palavras vãs ou chocarrices, coisas essas inconvenientes; antes, pelo contrário, ações de graças. Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não sejais participantes com eles. Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz (porque o fruto da luz consiste em toda bondade, e justiça, e verdade), provando sempre o que é agradável ao Senhor. E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as.  Porque o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha. Mas todas as coisas, quando reprovadas pela luz, se tornam manifestas; porque tudo que se manifesta é luz. Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios,” - Efésios 5.3-15
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Fontes:
[1] http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932002000200009&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
[2] https://www.facebook.com/lucio.antoniodeoliveira/posts/661784180588386
[3] https://www.youtube.com/playlist?list=PLGwlMYcY85qaC58YrqYDdwrFghhaQUWkU

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Autor: Bruno dos Santos Queiroz

Divulgação: Bereianos

IPB: Evangelização Confessional x Pragmatismo das Comunidades



É com profunda dor e decepção que escrevo esta breve introdução desta série de postagens, especialmente com alguns que caíram pelos caminhos da dura pressão de resultados, que acabaram cedendo ao que é a pior ameaça contra a herança litúrgica e reformada histórica que a Igreja Presbiteriana do Brasil tem sofrido na última década. Creio que isso é pior que a pressão pentecostal sofrida na década de 90. Sem dúvida alguma, a IPB deixa de ser IPB onde uma Comunidade Presbiteriana é plantada. Esse é um câncer, um sistema corrosivo, destruidor para as igrejas presbiterianas.

Para acalmar alguns, a determinação de não usar o nome comunidade foi desferido pelo Supremo Concílio da IPB. Devo, porém, dizer três coisas: 1. Foi apenas isso, o que de fato não mudou nada na prática. As Comunidades continuam com suas mesmas características litúrgicas e eclesiológicas, quando não, humanistas; 2. Algumas demonstram que não estão nem um pouco submissas a essa decisão, continuam com o nome “comunidade”; 3. Muitos pastores de renome no Brasil não querem ‘mexer’ nisso, pois já estão envolvidos com os congressos promovidos pelas Comunidades.

Daqui a dez anos, talvez, não existirá mais IPBs em muitos lugares - sociedades internas, cultos solenes, hinos, símbolos de fé, farão parte da história de uma igreja morta, morta por um parasita que se tornou um monstro. A única coisa que se respeita da CI [Constituição Interna] da IPB são as garantias de salários para os pastores. Se até lá o Senhor não voltar, estaremos cheirando o vômito do Senhor Jesus.

Apesar de dizer assim, Ele pode causar uma mudança (Mt 16.16-18).

I. QUAL É O GRANDE PROBLEMA?

As Comunidades perderam, na prática, a compreensão da doutrina bíblica da depravação total (Rm 3.9-18) e passaram a buscar um estilo de igreja que agrade as pessoas. Isso causa um prejuízo incalculável na proclamação do evangelho. A advertência de Paul Washer é sábia:
“[..] àqueles que estão constantemente buscando formas inovadoras de comunicar o evangelho para um nova plateia [seeker-sencitive], faria bem começar e terminar uma pesquisa nas Escrituras. Os que enviam milhares de questionários perguntando aos não convertidos o que mais desejam em um culto devem perceber que dez mil opiniões de homens carnais não carregam a autoridade de um “i” ou “til” da palavra de Deus. Devemos entender que há um grande abismo de diferenças irreconciliáveis entre o que Deus ordenou nas Escrituras e o que a atual cultura carnal deseja.” (O Poder do Evangelho e Sua Mensagem, p. 20).

Van Til, apesar de focar a questão da lógica, comenta algo bem interessante:
“O Deus do cristianismo é para ele [para o homem caído] logicamente irrelevante para a experiência humana.” (Apologética Cristã, p.138).

Em um resumo bem simples, mas real e verdadeiro, as Comunidades não estão erradas em querer plantar igrejas, mas o tipo de igreja que querem plantar, não é uma que agrada a Deus em primeiro lugar, mas que agrada a cultura e os gostos dos filhos da ira (Ef 2.1,2).

Em certo sentido, enquanto as igrejas neopentecostais procuram agradar o misticismo brasileiro, usando elementos abolidos do Antigo Testamento, eles pelo menos estão buscando na Bíblia, com péssima exegese, a formatação de seus métodos, enquanto as Comunidades Presbiterianas estão indo direto à cultura popular caída (Veja aqui). Ambos os seguimentos são iguais.

II. QUAL É O SEGUNDO GRANDE PROBLEMA?

Não posso deixar de dizer algo de máxima importância. Muitos dos presbiterianos conservadores estão apáticos e não estão envolvidos na evangelização árdua em suas igrejas. Não evangelizar é o mesmo de evangelizar errado. Ser inativo é ser tão reprovável quanto ser pragmático. Criticar eles por fazerem errado, e não FAZER o certo é também cair em erro. Recentemente, um conhecido reformado em uma palestra sobre evangelização disse:
“Vou falar de evangelização urbana, mas eu mesmo não evangelizo.

O nosso doutor, foi “sinceramente hipócrita”. Ele não deveria dar a tal palestra nessa igreja. Aqui é onde estamos perdendo espaço para as Comunidades, que apesar de estarem erradas, não estão erradas na disposição.

Bom lembrarmos que não existe uma forma de evangelização, ela deve ser feita sempre e de diversas maneiras. Na pregação no culto solene, na visitação, no discipulado, nas reuniões, nas ruas, isso deve estar impregnado na vida do ministro, dos obreiros, dos líderes locais e de todos os crentes. Joel Beeke mostra que os puritanos eram evangelizadores por excelência, ao estilo da época (Espiritualidade Reformada, cap. 7º). A visitação de Richard Baxter demonstra um pastor evangelista (Manual Pastoral do Discipulado, Editora Cultura Cristã). O conteúdo, sabemos, nunca foi formatado aos ditames do mundo caído.

A Bíblia adverte que temos essa obrigação e promessa (Mt 28.18-20; I Pe 2.9,10). E temos dois documentos na IPB que deixam em relevo que nossa missão envolve a evangelização, juntamente com outras ações nobres da Igreja:
Catecismo Maior de Westminster - 159. Como a Palavra de Deus deve ser pregada por aqueles que para isto são chamados? Aqueles que são chamados a trabalhar no ministério da Palavra devem pregar a sã doutrina, diligentemente, em tempo e fora de tempo, claramente, não em palavras persuasivas de humana sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder; fielmente, tornando conhecido todo o conselho de Deus; sabiamente, adaptando-se às necessidades e às capacidades dos ouvintes; zelosamente, com amor fervoroso para com Deus e para com as almas de seu povo; sinceramente, tendo por alvo a glória de Deus e procurando converter, edificar e salvar as almas. Jr 23:28; Lc 12:42; Jo 7:18; At 18:25;20:27;26:16-18; I Tm 4:16; II Tm 2:10,15;4:2,5; I Co 2:4,17;3:2;4:1,2;9:19-22;14:9;II Co 4:2;5:13,14;12:15,19; Cl 1:28; Ef 4:12; I Ts 2:4-7;3:12; Fp 1:15-17; Tt 2:1,7,8; Hb 5:12-14.”
Constituição da IPB - Art. 2º. A Igreja Presbiteriana do Brasil tem por fim prestar culto a Deus, em espírito e verdade, pregar o Evangelho, batizar os conversos, seus filhos e menores sob sua guarda e "ensinar os fiéis a guardar a doutrina e prática das Escrituras do Antigo e Novo Testamentos, na sua pureza e integridade, bem como promover a aplicação dos princípios de fraternidade cristã e o crescimento de seus membros na graça e no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.
“Art. 14. São deveres dos membros da igreja, conforme o ensino e o Espírito de nosso Senhor Jesus Cristo: a) viver de acordo com a doutrina e prática da Escritura Sagrada; b) honrar e propagar o Evangelho pela vida e pela palavra; c) sustentar a igreja e as suas instituições, moral e financeiramente; d) obedecer às autoridades da igreja, enquanto estas permanecerem fiéis às Sagradas Escrituras; e) participar dos trabalhos e reuniões da sua igreja, inclusive assembleias.”

Se é assim que se estabelece a Igreja Presbiteriana do Brasil, me parece que muitos estão se escondendo na crítica ao pragmatismo, o que de fato deve ser feito, mas estão parados. Outros nem na crítica a esse movimento cancerígeno, estão na Torre de Marfim, intocáveis, desde que sua fama e títulos sejam honrados.

O QUE FAZER NA PRÁTICA?

Para uma evangelização confessional, isto é, bíblica, você precisa acima de tudo ter duas atitudes em relação aos símbolos de fé presbiterianos - Primeiro conhecê-los de forma abrangente. Ler constantemente, na só a Confissão de Fé de Westminster, mas especialmente seus Catecismos. Segundo, ter fervor, convicção, entusiasmo, a respeito de suas posições bíblicas confessionais. O mundo tem convicção de seu relativismo, os neopentecostais de suas heresias, judeus foram trucidados e muçulmanos morrem e matam pela fé. Porém, muitos Reformados, parecem adotar uma atitude ‘complacente’ e apática em relação á sua fé, que não dá para entender por que são, muitos desses, pastores, presbiterianos. Não há fervor na alma. Se achar que não há fervor na vida Confessional, então duas coisas você não sabe mesmo: A vida dos puritanos, e duas perguntas e repostas do Catecismo Maior – a 104 e 105.

Jamais você verá os frutos de ser fiel aos símbolos de fé presbiterianos se você não conhecer e não ter paixão ardente por eles. Quando me deparo com alguns comentários negativos a respeito dos Símbolos da IPB, não raro identifico isso. O que está decepcionado em usar, não tem nenhum conhecimento a mais, nenhuma experiência de vida a respeito, nenhum plano devocional. Parece que o período no Seminário ou no Instituto esgotou sua paciência com os símbolos de fé, e algum afastamento parece ser um alivio. Outros não negam publicamente, mas negam na prática.

Ainda há os que talvez possuam os dois passos acima, estudam e tem fervor, mas não pensaram muito em usá-los no processo de evangelização e discipulado. Nessa postagem pretendo dar alguns apontamentos a respeito.

I. USANDO OS SÍMBOLOS COMO MATERIAL EVANGELÍSTICO

Talvez o que muitos nunca fizeram, é usar os Símbolos de fé já no processo de evangelização. Como fazer?

Quando produzir folhetos de evangelismo em sua igreja ou congregação, inclua algum trecho dos Símbolos de Fé. Uma parte da CFW ou dos catecismos que seja pertinente ao tema que você está abordando. Eu já inclui em um folheto a definição incomparável que a CFW dá de quem é Deus (presente também nos catecismos). Você talvez use aqueles folhetos das sociedades bíblicas, que são estreitos, com mensagens curtas. Então, faça-os apenas com duas perguntas, ou partes da CFW. Não tenha receio disso!! Imagine um folheto com a pergunta “Quem é Deus?” E antes de entregar para a pessoa, pergunte a ela qual seria a resposta dela. Você notará que as respostas são sempre aquelas, vazias e sem objetividade. É uma grande oportunidade de mostrar a resposta simples, bíblica e irrefutável do Catecismo Maior.

Recentemente escrevi um folheto que tem por tema “Qual o objetivo de sua vida?” Ao passo que a evangelização pragmática buscaria as respostas aos anseios do homem caído no homem, o Catecismo mostra que o foco está para cima, não em nós. A maior parte o folheto se desdobrou em torno do que é dito na primeira pergunta do CMW:
“1. Qual é o fim supremo e principal do homem? Resposta. O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e alegar-se nele para sempre.  Rom. 11:36; 1 Cor. 10:31; Sal. 73:24-26; João 17:22-24.”

O impacto disso é surpreendente, pois está honrando a Deus, dando testemunho não diluído de Sua Palavra. Faça o teste... ‘lance seu pão sobre as águas’. Quem sabe algumas pessoas saberão o sentido da “voz de grande estrondo” de Ez 3.12 por encontrar o objetivo da vida delas!

II. USANDO OS SÍMBOLOS DE FÉ COMO MANUAL DE DISCIPULADO

Eu costumo dizer que a evangelização bíblica envolve três momentos, ou passos. O primeiro é o anúncio/proclamação: quando você comunica o evangelho a uma pessoa. Depois vem o discipulado/ensino: quando você ensina o evangelho a uma pessoa. Por último, vem a integração/inclusão: quando você a inclui na comunidade do evangelho, na igreja. A Evangelização é plena.

No segundo passo, onde temos adotado o termo, ‘discipulado’, não é incomum um curso, alguns materiais de ensino do chamado “ABC” do evangelho. Isso é muito bom mesmo, e muitos materiais têm suprido essa necessidade e tem sido benção de Deus para a vida da igreja. Porém, você pode fazer um material de discipulado mesmo usando os Símbolos de Fé!

Eu organizei um, que expandi recentemente com artigos da Constituição da Igreja Presbiteriana, para ao mesmo tempo servir na classe de catecúmenos. Pensei em fazer assim, pois às vezes em trabalhos nascentes o discipulado já serviria para a recepção de membros. Como se fosse uma classe de catecúmeno pessoal, na casa do novo crente.

Como organizei esse material? Em cinco assuntos principais:

1. Bíblia - 2. Deus - 3. Salvação - 4. Vida Cristã e 5. Igreja

Selecionei o que especialmente o Catecismo Maior de Westminster diz a respeito desses temas e inclui alguns pontos da Confissão. Você pode fazer isso em seu discipulado [de uma certa forma, chamo-o de "Catecismo Médio"]

Se preferir, use o Breve Catecismo de Westminster no discipulado, não tenha medo, nem imagine que é profundo demais para as pessoas. Essa é nossa missão, ensinar todo o desígnio de Deus (At 20.27). Elas aprenderão, esteja certo disso. Jamais deixamos de entregar a Bíblia para alguém, pois nela tem o livro de Levítico, as profecias de Daniel, as visões de Ezequiel ou mesmo o difícil livro simbólico de Apocalipse. Esses são livros inspirados, superiores aos documentos de fé que neles estão baseados. Não fique preocupado se os Símbolos de Westminster podem causar confusão ou dificuldades. Eles causarão em todos que não estão de acordo com eles!!! Aí entra o papel do mestre, do discipulador, de ensinar com esmero (Rm 12.7).

III. TODOS OS MEMBROS DE SUA IGREJA TEM OS SÍMBOLOS DE FÉ?

Infelizmente, a maioria dos presbiterianos no Brasil não possuem os Símbolos doutrinários de sua fé. Isso tem contribuído para a formação de Igrejas Presbiterianas que são mais comunidades evangélicas do que Igrejas Reformadas. Precisamos trabalhar contra isso, com todo ardor e força que temos. Isso virou uma questão de sobrevivência. Aos reformados que estão preocupados com o crescimento das comunidades presbiterianas, eu tenho essa certeza. Já que nossos medalhões reformados estão calados diante das comunidades presbiterianas, só resta-nos a luta pela pulverização dos símbolos nas igrejas e congregações, em uma nova geração de crentes.

Mas se você quer ser um presbiteriano autêntico, se você quer ser um ministro honrado, de palavra, ou um obreiro que seja de confiança, comece a estimular a aquisição dos símbolos de fé por parte de todos os membros de sua igreja ou congregação. Se puder, que a igreja compre e distribua a todos os membros. Se não puder, que pelo menos aos que não tem muitas condições. MAS QUE TODOS TENHAM. Crianças e adultos. [Obs: A Editora Cultura Cristã tem feito promoções significativas para os símbolos de fé e, diga-se de passagem, os livros que contém os Símbolos já possuem os textos bíblicos transcritos. Eu sempre defendi a idéia que deveriam ser impressos em formatos de revista de escola dominical, com letras legíveis, e que fossem vendidos a preço de custo. Mas já que não é possível, fico grato a Deus pelas promoções realizadas pela editora, mostrando essa sensibilidade].

Como isso pode contribuir na evangelização? A medida que a pessoa for sendo integrada na igreja local, ela notará que tais documentos de fé são levados a sério. Que a importância deles é indispensável. Irá concluir a evangelização dele à medida que ele notar a cultura doutrinária no contexto de sua nova família da fé. Os crentes começarão a crescer em conhecimento doutrinário, sendo também capazes de dar orientação bíblica aos novos. Isso tudo é o processo de evangelização, até o momento em que ele for batizado e começar gerar para Cristo outros membros. E com essa impressão doutrinária prosseguirá em conduzir outros aos caminhos do Senhor.

Creio nessas coisas, e tenho praticado.

Deus nos fortaleça, em Cristo!

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Autor: Luciano Sena
Fonte: MCA - Ministério Cristão Apologético